A Ciência de Ser Fã: Por Que Amamos Times e Marcas?

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Tempo de leitura: 16 minutos

E aí, Bugado ou Bugada! Hoje vamos entrar na sua cabeça e desvendar por que você é tão apaixonado por aquele time ou aquela marca. Mas calma, não é só isso.

Também vamos falar sobre como você usa esse mesmo mecanismo para explicar quem você é. E como isso pode incluir aspectos desagradáveis e levar a sentimentos como ansiedade.

Será que está rolando algo na mente e cérebro sem você nem perceber? Por que amamos o que amamos? Preparado para ter a mente debugada? Então, bora lá!

Por que Amamos o que Amamos?

Você já parou para pensar por que certas coisas despertam em você uma paixão intensa?

Pra qual time você torce? Qual a sua marca de roupas favorita? Você tem marca de eletrônicos predileta?

Você pode até ficar tentando a responder sim. E que gosta “porque é legal” ou “porque todo mundo gosta”. Não: não é todo mundo que gosta de Nike – nem todo mundo é flamenguista.

Há algo mais profundo acontecendo aqui, algo que está conectado ao modo como nosso cérebro funciona.

Vamos entender!

Uma Máquina de Padrões e Associações

Nosso cérebro é uma espécie de supercomputador evolutivo. Ele foi moldado ao longo de milhões de anos para ser extremamente eficaz na identificação de padrões.

Isso era crucial para nossa sobrevivência. Imagine nossos ancestrais tendo que distinguir rapidamente entre um arbusto e um predador escondido.

Essa habilidade de reconhecer padrões rapidamente é uma herança evolutiva que ainda usamos hoje. Só que hoje usamos de formas bem mais complexas.

Uma forma pode, por exemplo, lembrar você que algo é perigoso. Pense numa caveira como símbolo universal de perigo.

Da mesma forma, uma cor pode evocar sentimentos de calma ou urgência, como o vermelho. Um som pode ser reconfortante ou alarmante, como uma sirene.

Nosso cérebro pega essas pistas e as usa para fazer julgamentos rápidos sobre o que estamos experimentando.

O logo do seu time ou de sua marca favorita é uma forma. Quando você o vê, algo mágico acontece.

Seu cérebro começa a acender uma série de conexões neurais que são como atalhos para diferentes experiências, memórias e emoções que você associou a esse símbolo específico.

Talvez seja uma lembrança de assistir a um jogo emocionante com amigos e família. Ou talvez seja a sensação de pertencer a uma comunidade que compartilha seus interesses e valores.

Conhecer, Gostar, Amar e Ser

Mas não para por aí!

Essas associações podem ir além de simples memórias ou sentimentos e tocar algo ainda mais profundo: sua identidade.

É como se esse logo ou símbolo fosse uma chave que destrava uma parte de quem você é — ou quem você acha que é.

E é aqui que as coisas ficam realmente interessantes!

Isso acontece numa progressão. Pense, por exemplo, no caso de alguém que se relaciona com algum time, como o Flamengo:

Estágio 1: Conheço o Flamengo

O primeiro momento é um divisor de águas entre conhecer e não conhecer. Aqui ocorrem os primeiros contatos com a marca (que pode ser de um time).

Nesse primeiro momento, o futuro flamenguista passa a ter conhecimento de que o Flamengo existe.

Muitas vezes isto ocorre durante a infância. Ao assistir os primeiros jogos e ver outras pessoas torcendo, a pessoa passa a saber: olha, o Flamengo existe.

E outras pessoas, como familiares, têm opiniões fortes sobre o Flamengo. Que podem ser usadas como exemplo.

Estágio 2: Gosto do Flamengo

Depois de conhecer, vem o gostar. Nesse estágio, nosso futuro flamenguista começa a desenvolver uma afinidade pelo time. Talvez seja pelo estilo de jogo, talvez seja pelos jogadores, ou talvez seja pela energia da torcida. O fato é que algo clicou.

Nesse momento, o cérebro começa a fazer mais do que apenas reconhecer o Flamengo: ele começa a associá-lo com emoções positivas.

Talvez assistir a um jogo traga uma sensação de excitação ou talvez usar uma camisa do time traga um sentimento de pertencimento. De qualquer forma, essas associações emocionais começam a se formar e a se fortalecer.

Estágio 3: Amo o Flamengo

Agora as coisas começam a ficar sérias. Amar é mais do que gostar; é uma conexão emocional profunda que envolve um comprometimento maior.

Você não é apenas um espectador; você é um torcedor. Você sente as vitórias e as derrotas como se fossem suas. O Flamengo não é apenas um time: é “o seu time”.

Nesse estágio, as associações neurais estão tão fortes que podem afetar seu humor, suas decisões e até mesmo como você vê a si mesmo. É aqui que a identidade começa a entrar em jogo de forma significativa.

Estágio 4: Sou Flamenguista

Aqui chegamos ao ponto mais profundo dessa jornada: o estágio do “ser”.

Nesse ponto, a linha entre você e o Flamengo começa a ficar turva. Você não é apenas um torcedor; você é flamenguista. A identidade não é mais apenas uma associação; ela é uma declaração de quem você é.

E é aqui que precisamos fazer uma pausa e refletir. Porque quando algo externo, como um time de futebol, se torna tão profundamente enraizado em nossa identidade, isso pode ter implicações sérias, tanto positivas quanto negativas.

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Para Onde Vamos Agora: A Complexidade da Mente

Então, já vimos que amar algo não é tão simples quanto parece. É um processo que envolve várias camadas do nosso ser, desde nossas emoções até nossa identidade.

Vamos mergulhar em como a mente organiza todas informações para entender como isso funciona.

Você já se perguntou como consegue lembrar de tantas coisas diferentes? Como sabe que gosta de futebol, mas também de um certo tipo de música, ou de um estilo específico de arte?

Como você consegue manter todas essas preferências, memórias e até mesmo identidades organizadas na sua cabeça?

A resposta está na incrível habilidade do nosso cérebro de criar e organizar conceitos. E não estamos falando apenas de conceitos como “amor” ou “ódio”, mas também de conceitos que você nem percebe que está usando.

Então, se você está pronto para entender como seu cérebro cria uma espécie de mapa mental para ajudá-lo a navegar neste mundo complexo e muitas vezes confuso, fique ligado. Vamos explorar essa teia conceitual e descobrir como o “eu” se encaixa nela.

Como a Mente Organiza Informações: O Poder dos Conceitos

Se você já se perguntou como consegue lembrar de tantas coisas diferentes, a resposta está nos conceitos.

O Que São Conceitos?

Conceitos são representações mentais que ajudam a organizar o mundo ao nosso redor.

Vago, né? Abstrato. Vamos partir de um exemplo.

Pense numa maçã.

Maçã é um conceito. Quando você pensa numa maçã, você sabe do que eu estou falando. Vem uma imagem de maçã à mente, certo?

Vamos ilustrar o conceito de maçã da seguinte forma:

Assim como uma maçã é um conceito, uma pera também seria. Ou uma banana. Bem, você deve ter imaginado que qualquer fruta seria um conceito.

Mas não para por aí. “Fruta” também é um conceito. Você consegue pensar na ideia de “fruta” e associar a uma série de coisas, certo?

Com base nisso, você pode pensar que qualquer coisa é um conceito e, bem… você estaria certo!

Qualquer coisa em que você consiga pensar é um conceito. Os conceitos são a estrutura básica de informação do cérebro.

Se o cérebro fosse o universo, um conceito seria um átomo. Um átomo de informação que pode representar:

  • Algo concreto: maçã, banana, bola, campo de futebol, biscoito, relógio, humano…
  • Algo abstrato: verde, Flamengo, pensamento, música, dúvida…
  • Coleções de conceitos: fruta, time de futebol, espécie, cor…

A lista poderia se estender ao infinito. Vamos trabalhar com uma regra geral que pode simplificar:

Se é algo em que você consegue pensar, então é um conceito. Afinal, você está usando um cérebro pra pensar, concorda? Então, qualquer coisa em que você consiga pensar é um conceito.

Conceitos separados explicam muito pouco sobre a mente e como a pessoa se torna flamenguista.

Então, vamos falar um pouco sobre como eles se relacionam. E como esses átomos se tornam o universo da sua mente.

Como Conceitos se Relacionam

Os conceitos na sua mente não existem de forma isolada. Eles estão conectados de alguma forma. Uns aos outros.

Se conceitos são os átomos do universo mental, então as ligações entre eles são as forças que mantêm tudo coeso.

Vamos para o exemplo da maçã. Quando você pensa na maçã, imediatamente pensa em vários conceitos relacionados ao que você entende por maçã:

  • A ideia de maçã em si
  • A cor da maçã
  • O sabor de uma maçã
  • A palavra “maçã” e seus correspondentes em outros idiomas, como “apple”
  • Memórias de momentos em que comeu ou interagiu com maçãs
  • Pessoas que adoram maçã que conhece (se alguma)

E por aí vai.

Então pensar numa maçã vai trazer o conceito de maçã à sua mete. Quando isso acontecer, vários outros conceitos relacionados a maçã também surgirão. E eles estão todos relacionados na sua mente.

Como na imagem abaixo. Os conceitos estão todos relacionados:

O conceito de maçã envolve ela em si, a palavra “maçã”, a cor vermelha (em geral), o fato de ser uma fruta e ocasiões em que comeu maçã e como faria para comer uma, por exemplo.

Por que isso é importante? Qual a consequência disso?

É bem simples, na verdade!

Quando você entende que os conceitos em sua mente estão relacionados, uma propriedade deles fica óbvia:

Não há como pensar em um deles de forma isolada!

Só o fato de pensar numa maçã já faz com que você pense, de forma um pouco mais indireta, em qualquer coisa relacionada a elas, como:

  • Qualquer fruta
  • Qualquer objeto vermelho
  • Qualquer palavra que remeta a maçãs, em qualquer idioma que conhece
  • Qualquer momento da vida em que teve contato com maçãs

É o que acontece, por exemplo, quando algo trivial e cotidiano lembra outra coisa.

Se seu avô tinha o hábito de colher maçãs e comê-las contigo, você pode lembrar facilmente dele toda vez que uma maçã vem a mente.

E isso pode gerar momentos como “Toda vez que como maçãs, lembro do meu avô”.

É por isso! E pode ficar até óbvio, quando você para pra pensar. A moral da história é:

  1. Tudo o que você pode pensar é um conceito
  2. Todo conceito está relacionado a outros conceitos
  3. Este conjunto de conceitos e ligações forma o seu universo mental

“Ok, Davi, mas o que isso tem a ver com Flamengo e ser fã de alguma coisa?”

Pois bem! Com todo este conhecimento de neurociência em mente, vamos entender como isso se aplica ao futebol e times!

A Paixão por Times e Marcas na Mente

Então, você já entendeu que sua mente é como um universo em expansão, cheio de átomos de informação chamados conceitos. E esses conceitos não são ilhas isoladas.

Eles estão interconectados, formando uma teia complexa que é única para cada um de nós.

Mas como isso se relaciona com a paixão que você sente pelo Flamengo, pela Apple ou por qualquer outra coisa que faça seu coração bater mais forte?

O Conceito de Flamengo (ou seu time favorito)

Vamos começar com o óbvio: “Flamengo” é um conceito.

Mas não é apenas um conceito; é uma metrópole em seu universo mental. Um núcleo de informações e emoções que está conectado a uma infinidade de outros conceitos.

Quando você pensa no Flamengo, não está apenas pensando em 11 jogadores em um campo de futebol. Você está ativando uma rede neural que pode incluir tudo, desde memórias de jogos que assistiu, emoções que sentiu, até a cor vermelha e preta que representa o time.

Mas aqui está a chave: essa rede neural não é estática. Ela é dinâmica e está sempre mudando.

Cada novo jogo que você assiste, cada vitória que celebra, e até mesmo cada derrota que lamenta, adiciona uma nova camada à sua compreensão e conexão emocional com o conceito de “Flamengo”.

Como isto acontece?

Vamos trazer para exemplos:

O Conceito de Flamengo (ou seu time favorito)

Quando quase qualquer pessoa pensa no Flamengo, independentemente de torcer por ele, surge em sua mente uma relação de conceitos com a abaixo:

Ela envolve conceitos básicos, como Flamengo como time em si (representado pelo escudo), o nome do time, suas cores típicas, o fato de ser um time de futebol, seus torcedores e o conceito de futebol mais amplo, como esporte.

Este é uma visão bem neutra e objetiva sobre o time. Não é como a maioria dos amantes de futebol pensa. Talvez esse seja um mapa do Flamengo de uma criança, que ainda não torce para time algum.

Então, o que falta?

Falta o registro das memórias associadas ao time.

Vamos supor que a criança está tendo as primeiras experiências com o time. A título de exemplo, vamos considerar que seus pais são torcedores do time.

Os primeiros contatos da criança com o time pode envolver momentos afetivos. Estar próximo dos pais. Ter atenção deles enquanto assistem ao jogo e falam do assunto:

Conforme a criança vive essas experiências, novos conceitos são associados a tudo o que envolve aqueles momentos.

Então, o mapa é atualizado. O Flamengo envolve, além de seus elementos materiais, as experiências associadas a ele. E tudo o que essas experiências trazem.

No mapa da sua mente, isso significa que conceitos como atenção, família e pertencimento passam a ser associados ao Flamengo:

Quando isso acontece, o conceito de Flamengo passa a estar associado a coisas bem positivas. E é isso que define que, aos poucos, a criança vai criando uma memória afetiva relacionada ao time.

Qual desses conceitos ou relações envolver ser um flamenguista? Bem… Nenhum deles. Ainda. Mas, tem um conceito chave que entra no jogo e muda tudo.

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Tornando-se um Fã

Até aqui, temos uma pessoa com memórias afetivas sobre o time. Ela pode gostar. Ela pode até torcer pra outro time, mas nutrir memórias afetivas sobre o Flamengo.

Nada até aqui torna a pessoa uma torcedora do Flamengo ou flamenguista.

Falta um conceito importantíssimo no meio desse caminho. O conceito de Eu.

O Conceito de “Eu” Entra em Cena

Sim, você mesmo, sua identidade, é também um conceito em sua mente, e talvez o mais complexo de todos.

O “Eu” é como uma metrópole em seu universo mental. Um núcleo que está conectado a quase todos os outros conceitos que você possui.

É o centro gravitacional que mantém toda a sua teia conceitual unida. É o ponto de partida de toda jornada pelos caminhos da sua mente.

Quando você começa a associar o Flamengo com conceitos como “família”, “atenção” e “pertencimento”, algo mágico acontece.

O conceito de “Eu” começa a se entrelaçar com o conceito de “Flamengo”. Não é mais apenas um time que você assiste; é um time que faz parte de quem você é.

Esse entrelaçamento é reforçado cada vez que você vive uma experiência emocional relacionada ao Flamengo.

Seja comemorando uma vitória com seus amigos e família, seja sentindo a tristeza de uma derrota, cada uma dessas experiências serve como um fio que tece mais apertadamente a relação entre “Eu” e “Flamengo”:

E é aqui que a paixão entra.

Quando você é apaixonado por algo, esse algo não é apenas um conceito entre muitos; ele se torna um pilar de sua identidade.

Então, quando você diz que é flamenguista, você não está apenas fazendo uma declaração sobre suas preferências esportivas. Você está fazendo uma declaração sobre quem você é.

E essa declaração é apoiada por uma rede complexa de conceitos e emoções que você construiu ao longo de sua vida.

Toda vez que você pensa em si mesmo(a), você está fazendo uma busca na sua mente pelo conceito de Eu. E, quando há essa associação forte entre seu Eu e seu time favorito, é como se ele fosse parte do seu próprio conceito de si mesmo.

E é assim que o conceito de “Eu” se torna a chave para entender não apenas por que somos fãs de algo, mas também como essa paixão molda e é moldada por quem somos.

Sendo Fã Além do Futebol

Agora, pense em como isso se aplica a ser um fã.

Ser um fã não é apenas uma decisão consciente de gostar de algo. É o resultado de uma série de interações entre diferentes conceitos em sua mente.

Quando você assiste a um jogo emocionante, o conceito de “Flamengo” se conecta com outros conceitos como “emoção”, “vitória”, “amigos” e “família” (se você assiste aos jogos com eles).

Com o tempo, essas conexões se tornam tão fortes que o simples ato de ver o logo do Flamengo pode desencadear uma cascata de respostas emocionais e pensamentos relacionados.

E é aqui que a coisa fica realmente interessante. Porque uma vez que essas conexões são estabelecidas, elas começam a influenciar outros aspectos de sua vida e de sua identidade.

Você começa a comprar produtos relacionados ao Flamengo, a seguir notícias e atualizações, e talvez até a participar de fóruns e comunidades online.

Em outras palavras, o conceito de “Flamengo” começa a se infiltrar em outras áreas de seu universo mental, formando novas conexões e enriquecendo conceitos existentes.

Então, da próxima vez que alguém perguntar por que você é tão apaixonado pelo Flamengo, você pode dizer que não é apenas uma questão de gosto. É uma complexa rede de conexões neurais, constantemente em evolução, que forma a base de quem você é.

E isso, meu amigo, é o poder dos conceitos e da teia conceitual em nossa mente.

Sabemos que isso pode gerar alguns problemas. Consumo desenfreado, brigas entre torcidas, entre outras questões que não mostram uma relação tão saudável assim entre o time ou marca e você.

Vamos colocar em perspectiva e falar um pouquinho disso.

Os Efeitos Colaterais de Ser um Fã

Sim, ser um fã tem seu lado sombrio. Vamos falar sobre isso.

O mesmo mecanismo neural que faz você se sentir parte de algo maior e dá sentido à sua vida também pode levar a comportamentos menos saudáveis.

Quando o conceito de “Eu” está tão fortemente entrelaçado com algo como um time de futebol, a linha entre o “Eu” e o “não-Eu” pode se tornar perigosamente tênue.

Em termos práticos, isso significa que qualquer ameaça ao time pode ser percebida como uma ameaça ao próprio “Eu”. E é aqui que as coisas podem sair do controle.

Por exemplo, quando seu time perde, você pode sentir como se uma parte de você também tivesse perdido. Isso pode levar a emoções intensas, que, se não forem gerenciadas adequadamente, podem resultar em comportamentos impulsivos ou até destrutivos.

Da mesma forma, o consumo desenfreado de produtos relacionados a uma marca que você gosta pode ser uma tentativa de reforçar essa identidade.

Mas isso também pode levar a problemas financeiros. Até mesmo a uma sensação de vazio, quando você percebe que nenhum objeto material pode realmente substituir a complexidade e a riqueza das conexões emocionais e conceituais que você tem com o time.

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Indo Além dos Times: as Marcas

Vamos lembrar: não estamos falando apenas de futebol por aqui!

Porque, acredite ou não, essa teia conceitual que liga o “Eu” a outras entidades não se limita ao esporte. Ela se estende a praticamente tudo em nossa vida, incluindo as marcas que consumimos.

Pense na Apple, por exemplo. Para muitos, a Apple não é apenas uma empresa que fabrica smartphones e computadores. Ela é um símbolo de inovação, design e, para alguns, até mesmo um estilo de vida.

Quando você compra um iPhone, você não está apenas comprando um telefone. Você está comprando uma parte de uma identidade que você quer assumir.

E aqui, também, o conceito de “Eu” entra em jogo de forma significativa.

Se você se vê como uma pessoa inovadora, criativa e à frente do seu tempo, então possuir um produto da Apple pode reforçar essa autoimagem.

E isso não é acidental. As marcas sabem disso e projetam suas campanhas de marketing para explorar essas conexões neurais e conceituais.

E, claro: reforçar essas conexões ao máximo, para que você continue adquirindo seus produtos.

Mas, assim como no caso do futebol, essa relação pode ter seus perigos. O consumismo, impulsionado pela necessidade de reforçar nossa identidade através de objetos materiais, pode levar a decisões financeiras imprudentes e até mesmo a uma sensação de insatisfação crônica.

Porque, no final das contas, nenhum objeto pode fornecer o tipo de validação e satisfação que vem de conexões humanas genuínas e de um senso de propósito.

Além disso, essa identificação forte com uma marca pode nos tornar menos críticos e mais tolerantes com práticas empresariais questionáveis.

Se a Apple (ou qualquer outra marca) faz algo eticamente duvidoso, podemos nos encontrar em um dilema moral, onde nossa lealdade à marca entra em conflito com nossos próprios valores éticos.

É só lembrar: tem várias coisas ligadas ao senso de Eu. Pode ser que, em algum momento, a ligação com uma marca ou time supere outras dessas ligações. Incluindo algumas que são bem importantes, como família ou amizades.

E aí, querido Bugado(a)… dá problema.

Então É Melhor Não Ter Time e Não Gostar de Marcas?

Calma lá, não vamos jogar o bebê fora com a água do banho.

Ter paixões e identificações não é ruim por si só. Na verdade, pode ser muito enriquecedor. O problema está no excesso de identificação e na falta de autoconsciência.

Há Benefícios em Ser Flexível

Um “Eu” flexível é aquele que pode se adaptar, aprender e crescer. Não é um castelo de cartas, pronto para desmoronar ao menor sopro de vento. É mais como uma árvore robusta, capaz de se adaptar, aprender e crescer, independentemente das tempestades da vida.”

Como você viu, as coisas que você gosta, incluindo suas paixões mais intensas, são o resultado de uma série de experiências anteriores.

Essas ligações não nasceram com você. Foram criadas, aprendidas e cultivadas. Logo, você não está rigidamente fixado em uma única identidade ou conjunto de interesses.

Isso permite que você explore diferentes aspectos de si mesmo e do mundo ao seu redor, o que é essencial para o crescimento pessoal e a felicidade.

Isto significa, inclusive, que você é capaz de deixar de gostar do que gosta atualmente e adquirir novos gostos. Programas de autodesenvolvimento como o Debug Mental ajudam a fazer, isso, quando é importante.

Por que você faria isso? É uma excelente pergunta.

Na realidade, muitas vezes nos vemos com gostos e paixões que são contraproducentes. E que, no fundo, nem falam tanto assim sobre nós.

Pense num torcedor fanático (de outro time que não o seu). Ou num comprador compulsivo de produtos de uma marca, como Apple. Ou qualquer tipo de “fanboy”.

Será que eles tomam as melhores decisões para eles mesmos? Ou será que foram condicionados, por exemplo, por opiniões alheias ou propaganda?

Vale se questionar quais paixões realmente valem a pena. E entender como definir isso envolve conhecer os seus valores mais profundos.

Uma Vida Focada no que Realmente Importa

A chave é encontrar um equilíbrio e basear sua vida em valores fundamentais, em vez de identificações superficiais. Ou pior: forçadas por meio de marketing e agentes externos.

Isso não significa que você não possa ser um fã ardoroso ou um consumidor fiel. Significa apenas que essas identificações não devem eclipsar ou substituir seus valores fundamentais.

Em alguns momentos, alguém pode te alertar ou você pode se pegar em algum tipo de excesso. Há um exercício importante que pode te ajudar: o exercício do desapego.

O desapego não é sobre jogar fora sua camisa do Flamengo ou vender seu iPhone. É sobre entender que, enquanto essas coisas podem trazer alegria, elas não são o cerne da sua identidade.

E entender, também, que você tem o direito de mudar quem você é sempre que quiser e precisar. Muita gente acha que “nasceu de um jeito” e é imutável. Como vimos: mesmo as maiores paixões são aprendidas.

Práticas como Mindfulness podem ser extremamente valiosas para você refletir sobre quem você é e o que realmente é o mais importante para você.

A autoconsciência para mudança é uma habilidade que pode ser cultivada, mas requer prática e, quando necessário, apoio externo.

Qual o Custo? É Sobre Gostar de Ou Sobre Ser? Qual a Fronteira?

Aqui está o cerne da questão. Quando a identificação com algo (seja um time ou uma marca) começa a custar sua saúde emocional, financeira ou mesmo ética, é hora de reavaliar.

A fronteira entre “gostar de” e “ser” pode ser tênue, mas é crucial. “Gostar de” é uma escolha, um interesse. “Ser” é uma identidade, e quando essa identidade é construída em torno de algo volátil ou externo, ela se torna frágil.

Quando a identificação com um time ou marca (ou até mesmo política) começa a interferir em outros aspectos importantes da vida, como relações familiares ou amizades, é um sinal de alerta.

É um indicativo de que talvez essa identificação tenha ido longe demais e esteja na hora de fazer um ajuste.

Se você está lutando com uma relação pouco saudável com marcas, times ou hobbies, o Debug Mental pode ser de excelente ajuda a você.

Então, a próxima vez que você se encontrar gritando em frente à TV durante um jogo ou se sentir compelido a comprar o último gadget, faça uma pausa e se pergunte: “Isso está alinhado com quem eu quero ser?

Com os valores que quero viver?” Se a resposta for sim, ótimo. Se não, talvez seja hora de reavaliar.

Então, Bugado ou Bugada, antes de colocar aquela camisa do seu time, pensar em uma discussão com um amigo ou clicar em ‘comprar agora’ no último gadget, dê uma pausa.

Pergunte-se: isso está realmente alinhado com quem eu sou?

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Comentários

Uma resposta para “A Ciência de Ser Fã: Por Que Amamos Times e Marcas?”

  1. […] você? Tem alguma situação, marca ou produto que faça com que você compre mais do que acha que deveria? Comente suas experiências […]

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