Dissonância Cognitiva: Você Está Se Enganando?

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Tempo de leitura: 10 minutos

Ei, Bugado ou Bugada! Já pegou alguém no flagra, fazendo algo diferente do que dizia? Já ouviu que as pessoas que falam muito mal de alguma coisa na verdade gostam dela em segredo? Parece muito Dissonância Cognitiva!

Então, acompanha o artigo, que é pra você!

O que causa esses comportamentos é a tal dissonância cognitiva. Neste artigo, vamos falar com ela funciona e como nos afeta no dia a dia.

O título também deixa uma pergunta: “Você Está Se Enganando?”. Já vou adiantar: a resposta é SIM!

Que troço é esse de dissonância cognitiva?

Vamos começar com uma história e uma pergunta. Vamos ver se você é ou seria um bom psicólogo.

Uma história sobre tarefas chatas

Imagine que você é um pesquisador e quer entender por que as pessoas às vezes agem de maneira contrária às suas crenças. Você decide fazer um experimento.

Você chama um grupo de pessoas para participar de uma tarefa extremamente chata, como girar um botão por uma hora. A tarefa foi feita para ser chata. Tão monótona quanto você conseguir imaginar.

A pessoa fica uma hora nessa chatice. Daí, ela tem que sair da sala e convencer o próximo participante de que a tarefa era legal. Sim: ela deveria mentir e convencê-lo de que foi tudo muito legal.

Pra incentivar, você paga o mentiroso. A alguns deles, você paga 20 reais. A outros, você paga apenas 1 real para fazer a mesma coisa.

Depois disso tudo, você pergunta ao mentiroso o que ele realmente achou da tarefa. Ele realmente achou chata? Ou tinha algo de interessante nela, no fundo?

Um dos grupos achou a tarefa mais divertida que o outro. Qual dos dois grupos você acha que achou a tarefa chata mais divertida? O que recebeu 20 reais ou o que recebeu 1 real?

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Se você pensou nos que receberam 20 reais, você está… ERRADO! Na verdade, foram os que receberam apenas 1 real que começaram a acreditar que a tarefa era divertida.

Divertida, mesmo! E, não, não estavam mentindo para você. Eles realmente avaliaram a chatice de girar botões algo agradável. Podem chegar a dizer que “tiveram uma chance de parar pra pensar na vida”.

Parece loucura, né? Mas é exatamente isso que aconteceu no famoso experimento de Leon Festinger, o psicólogo que cunhou o termo “dissonância cognitiva”.

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O Experimento de Dissonância Cognitiva de Festinger

Ilustração de AI de Leon Festinger, que elaborou a teoria da Dissonância Cognitiva
Vale lembrar: isto é uma imagem gerada por AI, não uma foto de Leon Festinger!

Pois é. Foi exatamente isso que o psicólogo Leon Festinger fez lá na década de 1950. Ok, exceto que ele pagou em dólares, não em reais.

Esse experimentou mostrou algo importante. Quando você faz alguma coisa que vai contra o que acredita, sente um desconforto mental. Esse desconforto é a tal da dissonância cognitiva.

Até aí, nada demais. É normal ficarmos chateados quando nos vemos fazendo algo que vai contra nossas crenças, certo?

Mas aí vem a pegadinha. Festinger descobriu que, para se livrar deste desconforto, você chega a mudar suas crenças!

É isso. Quando a ação não bate com a crença, a crença sai perdendo. Para voltar a se sentir confortável, uma vez que não dá pra voltar no tempo e mudar a ação, você muda no que acredita.

E faz isso sem perceber!

No caso do experimento, o conflito ficava entre “o experimento foi um saco” e “eu disse que o experimento era legal”. Não faz muito sentido, a não ser que a pessoa seja uma mentirosa por hábito.

Todos os participantes poderiam se apoiar no dinheiro pra justificar a mentira. “Ok, eu só menti porque me pagaram”.

Só que 1 real é muito pouco pra justificar. Não dá pra se apoiar nisso pra desfazer o conflito.

Então, para reduzir a dissonância, eles mudaram suas crenças e realmente começaram a achar que a tarefa era divertida. Pra não terem que dizer pra si mesmas que tinham mentido só por 1 real, elas passaram a achar a tarefa chata mais divertida! Inconscientemente!

Já os que receberam 20 reais tinham uma justificativa externa forte para mentir: eles estavam sendo bem pagos para isso (lembre que o experimento original foi em dólares e há mais de 50 anos). Então, eles não precisavam mudar suas crenças.

Eles mentiram só pelo dinheiro. E podiam dizer isso tranquilamente para si mesmos.

Ou seja: se fazemos algo que vai contra o que acreditamos, nós mudamos no que acreditamos. E sem perceber.

De girar botões ao fim do mundo

Outra observação ótima que Festinger fez tem a ver com crenças religiosas. Principalmente crenças do fim do mundo.

21 de dezembro de 1954 seria o dia da destruição da Terra. Pelo menos era o que Dorothy Martin acreditava. ETs do planeta Clarion viriam neste dia fazer este serviço. “Seres superiores” garantiram a Dorothy que isto ocorreria.

E ela acreditava. Acreditava tanto que juntou uma série de seguidores, que se tornaram a Fraternidade dos Sete Raios.

Esses seguidores, liderados por Dorothy, tinham total convicção de que uma tempestade cairia a meia-noite daquele dia e destruiria tudo. Os fiéis, no entanto, seriam arrebatados.

Diante desta verdade, fizeram o que era o mais sábio: largaram tudo (chegando a vender coisas) e se reuniram. Era o último dia do planeta e eles estavam juntos, aguardando o arrebatamento.

Como este artigo foi escrito em 2023, você pode concluir o óbvio: o mundo não acabou em 1954. E não foi preciso esperar quase 70 anos pra descobrirem isso.

Como assim o mundo não acabou?

Não apareceram discos voadores naquele dia. A tempestade não chegou. O arrebatamento não aconteceu. E o mundo não acabou.

Neste momento, os seguidores de Dorothy estavam numa dissonância cognitiva. Eles acreditavam piamente no fim do mundo, que não ocorreu.

Então eles entenderam que era tudo uma bobagem, retornaram para casa e seguiram suas vidas sem essa nova crença. Riram muito e foram felizes para sempre. Certo? Errado!

No dia seguinte, depois dos planos frustrados, Dorothy disse ter recebido mais uma informação privilegiada do planeja Clarion. Algo como:

Pela força de vossa fé, vocês foram salvos. A Terra não será mais destruída por seu zelo. Vivam felizes para sempre.

Frase inventada pelo Davi, autor deste artigo, para ilustrar o que a Dorothy disse ter ouvido.

E, bem, isso foi amplamente aceito pela fraternidade.

Sim. Em vez de atualizarem suas crenças no sentido de deixarem de acreditar no fim do mundo, os fiéis se colocaram como salvadores. Eles passaram a acreditar que a Terra não seria mais destruída porque eles foram zelosos.

Ou seja: eles salvaram a humanidade. Pelo menos na compreensão deles.

Eles estavam com tanta dificuldade de lidar com a realidade (fizeram papel de trouxa), que moldaram suas crenças de forma a encaixar no que aconteceu.

Você pode querer acreditar que a Fraternidade dos Sete Raios envolvia pessoas desequilibradas e desajustadas. Mas, não. Eram pessoais perfeitamente normais, aos olhos da sociedade.

A dissonância nossa de cada dia

Agora que você já entendeu o que é a dissonância cognitiva e como ela pode nos levar a mudar nossas crenças, vamos trazer isso para o dia a dia. Porque, acredite, a dissonância cognitiva está mais presente na sua vida do que você imagina.

Sim: na SUA vida. Você não é imune a ela, nem eu, nem ninguém.

Vamos pensar em um exemplo bem comum. Você sabe que passar horas e horas jogando sem parar não é bom para a sua saúde, nem para a sua produtividade. Mas você adora jogar, e muitas vezes se pega jogando por mais tempo do que deveria.

Aí vem a dissonância cognitiva. De um lado, a crença de que jogar demais é prejudicial. Do outro, a ação de jogar por horas a fio.

E o que você faz para reduzir essa dissonância? Talvez você comece a acreditar que jogar por horas não é tão ruim assim. Que é uma forma de relaxar, de se divertir. Que você merece esse tempo para si mesmo. E pronto, a dissonância diminui.

Mas aí vem a pergunta: será que essa nova crença é realmente verdadeira? Ou é apenas uma forma de justificar um comportamento que, no fundo, você sabe que não é o melhor para você?

A dissonância cognitiva pode nos levar a criar justificativas que nem sempre são as mais saudáveis ou as mais verdadeiras. E isso pode acontecer em várias áreas da nossa vida, não só nos jogos.

Pode ser que você esteja procrastinando em vez de estudar para aquela prova importante. Ou que esteja gastando mais tempo do que deveria nas redes sociais, em vez de focar no seu trabalho. Ou que esteja evitando aquela conversa difícil que você sabe que precisa ter.

Em todos esses casos, a dissonância cognitiva pode estar presente. E a forma como você lida com ela pode fazer toda a diferença.

Deu um “clique”? Compartilha com alguém que acha que precisa saber disso!

Dissonância cognitiva no universo geek/gamer

Tempo de jogo

Imagine que você gasta muitas horas jogando, mas sabe que também precisa estudar ou passar tempo com sua família. Para resolver esse conflito, você pode dizer a si mesmo: “eu estudo depois” ou “jogar também é uma maneira de aprender”.

Novos lançamentos

Você é um grande fã de uma série de filmes ou livros, mas não gostou do último lançamento. Em vez de admitir que não gostou, você pode se pegar dizendo: “o problema é o filme, eles não fizeram direito desta vez” ou “os produtores perderam a mão”.

Diversidade nos jogos e quadrinhos

Você defende a diversidade na vida real, mas não gosta quando aparecem personagens diversos em seu jogo ou quadrinho favorito. Para lidar com isso, você pode pensar: “eles estão forçando diversidade demais” em vez de aceitar que seu jogo ou quadrinho está refletindo o mundo real.

Microtransações em jogos

Você é um jogador que defende a justiça na estrutura dos jogos, mas joga um game que tem um sistema de microtransações claramente injusto. Você pode dizer: “As microtransações não afetam a jogabilidade” ou “é uma maneira de apoiar os desenvolvedores do jogo”, mesmo sabendo que está incentivando uma prática que você desaprova.

Vida social versus jogos

Você pode se considerar uma pessoa social, mas acaba passando mais tempo jogando online do que socializando fisicamente com amigos. Para diminuir a dissonância, você pode se dizer: “Estou socializando com pessoas online, isso conta como socialização”.

Personagens favoritos

Suponha que você gosta de um personagem em um jogo ou quadrinho, mas esse personagem age de uma maneira que você não apoia na vida real. Para lidar com isso, você pode pensar: “é apenas um personagem, suas ações não têm impacto na vida real”.

Crítica negativa ao jogo ou série favorita

Quando seu jogo ou série favorita recebe críticas negativas, você pode sentir dissonância cognitiva. Você pode reagir a isso dizendo: “Os críticos não entendem o que é bom” ou “Os críticos estão apenas seguindo a tendência de criticar tudo”.

Problemas técnicos em um lançamento

Se você esperou ansiosamente por um jogo, mas quando é lançado, apresenta muitos bugs ou problemas técnicos, você pode sentir dissonância. Para lidar com isso, você pode pensar: “Todos os jogos têm problemas em seu lançamento” ou “Os desenvolvedores vão consertar isso logo”.

Algumas questões geram apenas boas risadas. Mas é importante que você lembre que esse fenômeno te influencia. E pode até mesmo explicar questões sociais. Vamos falar, brevemente, da relação entre amor, ódio e a dissonância cognitiva.

A dissonância cognitiva e o amor (quase) transformado em ódio

Imagine duas crianças, ambas com opiniões quase neutras sobre colar na prova. Elas não veem isso como algo totalmente certo ou errado.

Um dia, uma delas decide colar na prova. A outra, por outro lado, decide não colar.

A criança que colou, agora, enfrenta uma dissonância cognitiva. Ela precisa justificar para si mesma por que tomou essa decisão. Para resolver essa dissonância, ela começa a ver o ato de colar como algo mais aceitável, talvez até natural.

A criança que não colou também busca uma justificativa para sua decisão. Para ela, colar na prova começa a parecer algo cada vez mais inaceitável, até mesmo abominável.

Com o tempo, essas duas crianças, que inicialmente tinham a mesma opinião sobre colar, acabam desenvolvendo visões muito diferentes sobre o assunto. Uma vê o ato de colar como algo natural, enquanto a outra o vê como algo totalmente inaceitável.

Então, nos perguntamos: essas duas crianças são realmente tão diferentes? Ou suas opiniões divergentes são apenas o resultado de como elas lidaram com a dissonância cognitiva? Como elas, como adultos, irão se posicionar em questões de políticas públicas?

A dissonância cognitiva ajudar a explicar casos complexos. Por exemplo, a polarização política, como lidamos com aquecimento global e outras questões fundamentais. Mas, aí é tema pra outro artigo

O que você pode fazer?

Agora que você entendeu como a dissonância cognitiva funciona e como ela pode influenciar nossas opiniões e comportamentos, você pode estar se perguntando: o que eu posso fazer sobre isso?

Aqui vão algumas dicas:

  1. Reconheça a Dissonância Cognitiva: O primeiro passo é reconhecer quando você está enfrentando uma dissonância cognitiva. Preste atenção aos momentos em que você se sente desconfortável por causa de uma discrepância entre suas crenças e suas ações.
  2. Busque Consistência: Tente alinhar suas ações com suas crenças. Se você acredita que algo é errado, mas se pega fazendo isso, tente mudar seu comportamento. Da mesma forma, se você está agindo de uma maneira que não está de acordo com suas crenças, ou acaba se sentindo impedido de fazer coisas que gostaria, talvez seja hora de reavaliar essas crenças.
  3. Seja Flexível: Lembre-se de que está tudo bem mudar de opinião. Às vezes, a dissonância cognitiva pode ser um sinal de que suas crenças estão evoluindo. Não tenha medo de reavaliar suas crenças e mudá-las se necessário.
  4. Aumente sua autoconsciência: Apesar de a dissonância cognitiva ser normal, se conhecer profundamente ajuda a colocá-la em perspectiva. A prática de mindfulness pode te ajudar a se observar de forma mais autêntica e com compaixão. Temos um guia definitivo pra isso!
  5. Considere trabalhar no autodesenvolvimento: Se você quer chegar ao próximo nível de bem-estar, relacionamentos e sucesso, um programa de autodesenvolvimento pode ser o que precisa. Vale conhecer o Debug Mental, um programa desse tipo feito sob medida para pessoas como você!

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Faz parte!

Lembre-se, a dissonância cognitiva é uma parte normal da experiência humana. O importante é reconhecê-la e saber como lidar com ela de forma saudável. E, claro, não acabar sendo babaca.

Você se identificou com alguma dessas situações? Já se pegou mudando suas crenças para se alinhar com suas ações? Compartilhe suas experiências nos comentários!

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Até logo! Estamos juntos!

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Espero que este artigo tenha sido útil e divertido. Até a próxima!

Vale ler para aprofundar

  1. Mistakes Were Made (but Not By Me) Third Edition: Why We Justify Foolish Beliefs, Bad Decisions, and Hurtful Acts (English Edition)

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Comentários

Uma resposta para “Dissonância Cognitiva: Você Está Se Enganando?”

  1. […] sobre a mente e sentiu que não entendeu muito bem? Pode até ser um artigo do Mente Bugada, como o sobre dissonância cognitiva ou […]

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